quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

BRINCANDO COM A MORTE

 

O Filomeno era o Rei da mentira. No trabalho, em casa, pros amigos, não tinha um pingo de vergonha na cara, uma vez sim e outra não lascava alguma em que o pessoal acabava acreditando que era verdade.

Apreciador de um goró dos buenos, vivia pelos botecos do centro na base do pito e do trago, contando chalaças e charamusqueando no meio dos borrachos com a maior facilidade.

Vez por outra no emprego matava um parente, que é claro, não morria, era só pra tapar os furos que deixava talvez pelas noitadas de borracheiras homéricas na Volta da Cobra.E era velório da mãe, da tia, da avó, até do pai.

Certa feita depois de uns tres dias desaparecido formou-se um comitê em busca do Filomeno que não dava sinal nem pelo celular tampouco mandou recado de mais um parente falecido repentinamente.

Uns achavam que estava hospitalizado, percorreram todos os locais possíveis, os bares, os mocós e até a delegacia de polícia. Só faltaram ir no IML pra reconhecimento de um provável cadáver.

Finalmente resolveram procurá-lo pelas redondezas onde morava porque em casa nem o telefone atendia... e não é que foram recebidos advinhem por quem? pelo próprio pai do Filomeno, aquele que ele havia "matado" em um momento qualquer daqueles em que tinha dado um chá de sumiço !

Bueno, depois dessa presepada, Filomeno pra não fical mal perante à chefia e colegas, se reiventou como um ser depressivo ( depois, é claro, de assistir em um programa de televisão onde o assunto era Depressão) . Só que o dito cujo em inquisição feita por um dos amigos , mais resbaloso que um mussum ensaboado, disse que não havia consultado médico, mas se automedicou com um comprimidinho branco que nem lembrava nome.E cada vez mais se enrolando na mentira parecia uma cobra mal matada saltando daqui e dali à cada pergunta do parceiro.

Prá não judiar mais, o Aristóteles colega do Biguá, assim era o apelido do Filomeno por causa da sede eterna acalmada somente com alguns frascos da bem gelada e espumosa cevada, resolveu deixar prá lá depois de um ataque de riso provocado por tanta cara de pau.

Como diz o ditado: "cachorro comedor de ovelha, só matando".... então a companheirada conhecedora das manhas do Filomeno, está aguardando o próximo capítulo da novela "Brincando com a morte". Até lá !



BOCCA CHIUSA

 Bocca chiusa é um termo em italiano, que significa cantar com a boca fechada. É uma técnica usada para o "aquecimento vocal", cantando-se as denominadas vocalizes diatônicas em acompanhamento com um teclado ou piano, que toca a melodia da vocalize, sendo que o cantor ou coralista por sua vez, a reproduz. Caracteriza-se por cantar com a boca fechada transferindo a ressonância para a região nasal.

Mas aí que me refiro ! Em boca fechada não entra mosca !

Acontece que muitas vezes deturpam a nossa fala e até torcem contra nossas conquistas. Bico calado ! Só conte,quando muito, o estritamente necessário.

Nem sempre é bom abrir-se e contar como nos sentimos a qualquer pessoa pela volta. Tristes, chateados, nem conseguimos esconder pela expressão do rosto quando não estamos bem,isso é um "abraço" para os "abutres de plantão".Alguns indagam sobre nossa vida com o intuito de obter munição a ser usada de forma distorcida e cruel. Da mesma forma, outros nem pensam em ajudar, apenas curiosa e inxeridamente vivem se metendo onde não são chamados.

Colocar para fora o que engasga pode ser muito benéfico, uma vez que, à medida que expomos o que incomoda, é como se dividíssemos o peso, que sai um pouco de nossas costas. Cuidado, pode haver quem nunca fará bom uso do que souber a respeito de alguém.

Acontece que tem muita gente incapaz de guardar segredo e, pior ainda, deturpam o que sabem e transmitem aquilo de uma forma negativa , para simplesmente manchar a imagem do outro. Jamais teremos certeza absoluta sobre todo mundo, sobre as reais intenções de quem se aproxima de nós, pois é preciso muito tempo para conhecer minimamente alguém.

O sentimentos são preciosos, são tesouros, que não merecem ser violados pela maldade e pela falsidade de quem não sabe fazer nada mais do que destruir tudo o que toca. E tem muita gente torcendo contra nossas conquistas.Não conte às pessoas mais do que elas precisam saber,pois , a maioria delas não tem que saber nada sobre nós.

Pois vale o velho ditado: "Em boca fechada não entra mosca" ou "boca chiusa"- porque de carancho o mundo anda cheio e de invejosos nem se fala!



AS BALZAQUIANAS

 

Em algum lugar do passado, e já faz tempo, um dia cheguei na casa dos 30 anos. E quando guria, ouvia falar das Balzaquianas já me sentia idosa e ao mesmo tempo curiosa sobre o segredo das trintonas, o que tinham de tão especial que eram tão endeusadas....

E a gente ouvia no rádio Miltinho cantando..."Você, mulher que já viveu, que já sofreu , não minta.Um triste adeus nos olhos seus a gente vê, Mulher de Trinta..."

E até marchinha de carnaval cantando as Balzaqueanas animavam os salões :"Não quero broto, não quero não,não sou garoto.Sete dias da semana eu preciso ver,minha balzaqueana.O Francês, sabe escolher, por isso ele não quer,qualquer mulher,Papai Balzac, já dizia,Paris inteira repetia,Balzac acertou na pinta, mulher só depois dos trinta."

Era bem assim,uma mulher chegar aos trinta anos era destino traçado.

Em 1842, o livro de Honoré de Balzac que completa 186 anos este ano abordava o tema "Mulher de Trinta Anos -“Só em certa idade as mulheres requintadas sabem dar caráter à sua atitude. O desgosto e felicidade dão à mulher de trinta anos, feliz ou infeliz, o segredo dessas eloquentes atitudes”, escreve Balzac, frase que passou a definição universal de um tempo na vida de uma mulher.

Enquanto no século 19 as mulheres se atrelavam a um casamento malsucedido para o resto da vida, as trintonas do século 21 se independizaram,não estão nem aí para a idade. Libertas dos preconceitos , corajosamente fazem tudo o que queriam fazer aos 20 anos e não tinham coragem.Há também a percepção de que são mais livres de pudores, obrigações e caraminholas sentimentais.

A medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30. Mas também não desmereço os meus sessenta e "guaraná com rolha" !

Para arrematar, uma curiosidade:

Alguns anos antes de morrer, a musa Marylin Monroe, colocou um anúncio no jornal que dizia:

"Mulher simples, trinta anos, bem em todos os sentidos, mas, até agora, muito pouco feliz no amor, com rendimento médio de quinhentos mil doláres por ano, procura homem honesto e sensível, pode ser calvo, para relação séria. Responder a Marilyn Monroe, Sutton Place, Nova Iorque." Nunca recebeu uma única resposta.

ABRAÇO DE FILHO

 

Abraço de filho deveria ser receitado por médico.
Há um poder de cura no abraço que ainda desconhecemos.
Abraço cura ódio. Abraço cura ressentimento. Cura cansaço. Cura tristeza.
Quando abraçamos soltamos amarras. Perdemos por instantes as coisas que nos têm feito perder a calma, a paz, a alma…
Quando abraçamos baixamos defesas e permitimos que o outro se aproxime do nosso coração. Os braços se abrem e os corações se aconchegam de uma forma única.
E nada como o abraço de um filho…
Abraço de Eu amo você. Abraço de Que bom que você está aqui. Abraço de Ajude-me.
Abraço de urso. Abraço de Até breve. Abraço de Que saudade!
Quando abraçamos, a felicidade nos visita por alguns segundos e não temos vontade de soltar.
Quando abraçamos somos mais do que dois, somos família, somos planos, somos sonhos possíveis.
E abraço de filho deveria, sim, ser receitado por médico pois rejuvenesce a alma e o corpo.
Estudos já mostram, com clareza, os benefícios das expressões de carinho para o sistema imunológico, para o tratamento da depressão e outros problemas de saúde.
O abraço deixou de ser apenas uma mera expressão de cordialidade ou convenção para se tornar veículo de paz e símbolo de uma nova era de aproximação.
Se a alta tecnologia – mal aproveitada – nos afastou, é o abraço que irá nos unir novamente.
Precisamos nos abraçar mais. Abraços de família, abraços coletivos, abraços engraçados, abraços grátis.
Caem as carrancas, ficam os sorrisos. Somem os desânimos, fica a vontade de viver.
O abraço apertado nos tira do chão por instantes. Saímos do chão das preocupações, do chão da descrença, do chão do pessimismo.
É possível amar de novo, semear de novo. É possível renascer.
E os abraços nos fazem nascer de novo. Fechamos os olhos e quando voltamos a abri-los podemos ser outros, vivendo outra vida, escolhendo outros caminhos.
Nada melhor do que um abraço para começar o dia. Nada melhor do que um abraço de Boa noite.
E, sim, abraço de filho deveria ser receitado por médico, várias vezes ao dia, em doses homeopáticas.
Mas, se não resistirmos a tal orientação, nada nos impede de algumas doses únicas entre essas primeiras, em situações emergenciais.
Um abraço demorado, regado pelas chuvas dos olhos, de desabafo, de tristeza ou de alívio.
Um abraço sem hora de terminar, sem medo, sem constrangimento.
Medicamento valioso, de efeitos colaterais admiráveis para a alma em crescimento.
*   *   *
Mas, se os braços que desejamos abraçar estiverem distantes? Ou não mais presentes aqui? O que fazer?
Aprendamos a abraçar com o pensamento.
O pensamento e a vontade criam outros braços e nossos amores se sentem abraçados por nós da mesma forma.
São forças que ainda conhecemos pouco e que nos surpreenderão quando as tivermos entendido melhor.
Abraços invisíveis a olho nu, mas muito presentes e consoladores para os sentidos do Espírito imortal, que somos todos nós.

 



HACE GUÁ

 

Hace Guá

Quando eu era" guria pequena" lá em Bagé, a Rainha da Fronteira, costumávamos fazer compras pegando a Carreteira em direção ao Aceguá, na fronteira do Brasil com o Uruguai.

Lá nos abastecíamos de Azeite de Oliva, guloseimas como caramelos, o famoso dulce de leche que é uma delícia, carne de gado, o Jamón(presunto) e queijos, as famosas galletas, bolachas muito gostosas que vinham em saco daquelas de farinha e nos divertíamos por horas a fio.

Aceguá é uma localidade que tem o mesmo nome com duas nacionalidades, isto é, "doble chapa", mas constituídos de uma só população. De um lado o município de Aceguá no Brasil e do outro lado o distrito ou vila de Aceguá no Uruguai. A origem do nome Aceguá no dialeto Tupi-Guarani é Yaceguay ou "yace-guab", e possui diversos significados, entre eles “Divisa ou Lugar de descanso eterno”, indicando o local que os indígenas escolhiam para viver seus últimos dias, por ser um lugar alto que descortinava uma visão panorâmica da região e proximidade com o céu (provável cemitério indígena); outro significado é "Terra alta e fria", características geográfica e climática do local; outra interpretação é "Seios da lua", por ser local com cerros altos (Serra do Aceguá). Segundo o folclore popular da região , a origem do nome Aceguá, vem do Lobo Guará ou Sorro . Foi por mais de dois séculos ``El Camino de Los Quileros", que seriam os contrabandistas castelhanos e portugueses. Eles circulavam com mercadorias em lombo de cavalos, conforme as demandas de cada um dos mercados da banda Ocidental e Oriental da fronteira. Estes ao passar pelos cerros e ouvir o uivo dos ``Sorros `` diziam, "Hay um bicho que hace guá".

Camino de Los Quileros inspirou uma canção do poeta bageense Eron Vaz Mattos.

A formação da vila do Aceguá é resultante do comércio informal entre os dois países, pois a fronteira seca é um caminho natural entre países limítrofes. Sua etnia é diversificada, composta por descendentes de portugueses, espanhóis, índios e negros, que formaram o gaúcho ou "el gaucho" nos dois lados da fronteira.

A região também tem a presença da colonização alemã, resultante das comunidades rurais de Colônia Nova, Colônia Médice e Colônia Pioneira, com hábitos e tradições germânicas. A imigração árabe em a sua marca forte, com costumes e tradições próprias, que passaram a explorar e dinamizar o comércio local.

Aceguá no século XX, principalmente no período após a Segunda Guerra Mundial com a carência de proteína vermelha e de agasalhos na Europa, passa por um período de grande desenvolvimento e fortalecimento na exportação da bovinocultura de corte e ovinocultura, produtos altamente expressivos até hoje no PIB do município.

Os índios Guaranis, ao que tudo indica, já habitavam, eventualmente, a localidade de Aceguá, antes do descobrimento do Brasil, que por ter uma pequena altitude em relação ao nível do mar se tornava uma região estratégica para observação e caça.

O clima da cidade que divide Brasil e Uruguai é variado e bem definido, ou seja, as temperaturas extremas variam de -5ºC até 38ºC durante o ano.

Na localidade, a fauna e a flora são diversificadas. A flora nativa impressiona pela qualidade das gramíneas. Aves e mamíferos típicos da região, como sorro, zorrilho, capincho, veado, ema, joão-de-barro, entre outros. Apesar de historiadores acreditarem que a cidade é habitada há mais de quinhentos anos, os primeiros registros datam de 1752, quando o índio Sepé Tiarajú, barrou os trabalhos das Coroas Ibéricas que vieram cumprir o Tratado de Madrid.

Na história, Aceguá foi rota de passagem em momentos históricos, como em 1773 que Vertiz y Salcedo cruzaram a cidade a fim de fundar o Forte Santa Tecla. Em 1811, D. Diogo de Souza passou para conquistar Montevidéu com três mil soldados. E em 1893, quando Gumercindo Saraiva entra no território Rio-grandense para deflagrar a Revolução Federalista.

Após alguns tratados de território e de limite, em 09 de maio de 1915, o Presidente da Província, Borges de Medeiros, reuniu-se com o Presidente do Uruguay, Feliciano Vieira, para a inauguração do Marco número 1, em homenagem ao Barão de Rio Branco.

Aceguá hoje é uma das fronteiras importantes que o Brasil possui, sendo mais uma rota comercial.



Diones Franchi - Jornalista